A poesia é considerada por muitos como a arte plástica das palavras. Uma espécie de função social que desperta, liberta e traz os sentimentos para a consciência. Gênero literário que acompanha a evolução da humanidade desde Platão. Mas, em meio às redes sociais, televisão, cinema e tantos best-sellers lançandos, surge o debate sobre o papel desta arte na contemporaneidade.
E no Dia Internacional da Poesia, o doutor em literatura e professor da USP Jaime Ginzburg explica que o modo como vemos a poesia está ligado às duas grandes guerras mundiais: “Depois desses fatos houve um desencantamento da humanidade em sustentar um projeto literário. Neste período, se colocou em dúvida se poderíamos fazer algo para que a autodestruição acabasse.”
Para reverter essa descrença na arte de escrever, alguns poetas fizeram com que as pessoas renovassem o papel da palavra. Eles deixaram os idealismos românticos e deram um toque de humanização nos textos. Um dos nomes em destaque desta transformação é o alemão Paul Celan autor de “Prisão da Palavra”, trabalho no qual chama atenção para as dificuldades de conciliar a experiência humana com a linguagem. “Celan dizia que mesmo a poesia que ele escrevia, cinza como a decomposição da matéria, tinha que perdurar. Uma metáfora e uma mensagem à sociedade, que, mesmo após as grandes guerras, deve seguir”, declara o professor.
Um dos poemas mais importantes de Paul Celan é “Fuga da Morte” que traz à linguagem e à consciência lírica o horror dos campos de concentração nazistas. Obra que desmentia os boatos de que depois Auschwitz não havia mais lugar para a poesia no mundo. “Esse poema é um poderoso apelo sobre os que se preocupam com a linguagem, principalmente a poética, que muitas vezes é marginalizada pela sociedade da tecnologia”, diz Ginzburg.
No entanto, mesmo com essas mudanças no jeito de produzir a poesia, Ginzburg ressalta que o gênero é pouco conhecido. “Em uma sociedade de leitura rara os poemas não são a preferência. Isso é resultado da indústria da cultura de massa que trabalha com a percepção do imediato. A definição do gênero lírico precisa de contemplação. Os textos que tratam da interioridade fazem com que o leitor pense nele mesmo. A poesia provoca a humanização do ser humano”.
Além de trabalhar a subjetividade, a poesia se destaca pelas múltiplas possibilidades que oferece. Um exemplo disso é a peculiaridade que ela ganha na América Latina, de raízes entrelaçadas à sua história de lutas sociais. “As obras latino-americanas têm caráter histórico muito forte de violência e perseguição política, o que contribui para textos de resistência à repressão e contestação à ordem vigente.”
Autores que se destacam com obras contra a repressão no Brasil são: Carlos Drumond de Andrade, Mario de Andrade, Hilda Hilst e Guimarães Rosa.
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